Nos últimos anos, notou-se a evolução significativa das atividades operacionais das técnicas contabilísticas no Brasil.
Paralelamente a isso, houve um aumento do uso de tecnologias, mídias sociais, alteração do comportamento dos brasileiros, principalmente aqueles que usam e/ou executam processos contábeis.
Diante desse cenário, as prestadoras de serviços de processamento de dados contábeis bem como os profissionais contabilistas sentiram-se na obrigação de buscar mecanismos mais eficientes objetivando atender as demandas das entidades.
A Contabilidade, segundo Martins et al (2013), por sua vez, tem a missão científica e: basilar de planejar, organizar e controlar o patrimônio das entidades gerando informações precisas e oportunas, em sentido amplo, tanto ao governo quanto aos investidores, sócios quotistas e empresários em geral, quanto aos demais usuários.
Por outro lado, enquanto as mudanças aconteciam sob a ótica normativa para contabilistas e demais usuários a partir do ano de 2007, outra mudança estava ocorrendo: a mudança de comportamento das pessoas e da chegada de novos consumidores no mercado, sendo estes últimos nascidos na era dos dispositivos eletrônicos e de diversas tecnologias disponíveis.
Diante do exposto, além das mudanças técnicas na esfera contábil haviam alguns pontos a serem explorados:
- O que realmente os empresários, entidades em geral, pessoas e usuários da contabilidade querem?
- Quais suas necessidades?
- Que tipo de informação desejam consumir?
- O que é “Contabilidade Digital”?
Contabilidade digital
A contabilidade recebeu inúmeras mudanças normativas a partir da Lei 6404/76 por intermédio da Lei 11.638/07 e alterações, bem como as normas emitidas pelo CFC – Conselho Federal de Contabilidade – cuja estruturas, segundo Martins et al (2013) foram em parte ou completamente alteradas com objetivo de adequar-se às normas internacionais de contabilidade (IAS / IFRS) sendo essas alterações produzidas após o estudo, preparo e emissão de Pronunciamentos Técnicos pelo CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis.
Paralelamente e com o passar dos anos, contabilistas e prestadoras de serviços de contabilidade no Brasil buscaram a adoção às normas supracitadas oferecendo aos seus clientes a posição da informação financeira conforme NBC TG estrutura conceitual (CFC).
Porém, Griffin (2012) destaca que durante muitos anos as pequenas empresas utilizavam em suas práticas sistemas de contabilidade com métodos manuais, que a título de exemplo são o uso de papéis, impressões, excesso de digitação manual.
Ao passo de que dominar novos conceitos contábeis, o contabilista havia também a necessidade de aprender um novo processo: o de adequar-se aos sistemas informáticos para realização de tarefas.
Cabe ressaltar que, segundo Barbosa (2012), teóricos da administração destacam sobre a questão da cultura organizacional, como certas crenças, costumes, símbolos que impactam a mudança de qualquer organização e tanto na atividade técnica do profissional de contabilidade, seja assistente ou gestor, ou ainda nas prestadoras de serviços os efeitos culturais impactam o desempenho econômico desses entes.
A preocupação ao atendimento às normas emitidas pelos governantes, pelo CFC – Conselho Federal de Contabilidade – e inúmeras outras normas seja de órgão regulador ou seja fiscalizador, trouxe ao profissional de contabilidade bem como às prestadoras de serviços o esforço tecnicista e foco na entrega de obrigações acessórias bem como relatórios necessários para a tomada de decisões dos usuários de contabilidade; Por outro lado, o avanço da tecnologia aos inúmeros consumidores abriu espaço para remodelar os conceitos de negócios existentes.
A velocidade de informação demonstra que a entrega de serviços contábeis nos moldes tradicionais bem como a busca de novos clientes via processo de “boca-boca” (indicação), panfletos, etc., necessitava de uma disrupção.
Os consumidores de ferramentas tecnológicas, como as mídias sociais, aplicativos, dentre outros, não absorvem serviços que não atendam às suas necessidades bem como comprovação. Adolpho (2011) certifica que esse comportamento é visível quando qualquer pessoa antes de comprar ou pesquisar sobre um produto acessa um buscador de internet (Google, Opera, Bing, ASK, Yahoo, etc.) e elabora a pesquisa certificando neste e/ou em outros canais, como mídias sociais e grupos, a validação de sua necessidade e/ou curiosidade.
Segundo Kotler et al (2017) a inteligência artificial e a robótica são, a cada dia, parte da vida das pessoas, da mesma maneira que um smartphone ou robôs controlados por voz.
A inovação se transformou em necessidade sendo que produtos e serviços com este viés chamam a atenção de consumidores ávidos pela facilidade, novidade e muitas vezes pela economia compartilhada.
Mas como trazer tudo isso para negócios que muitas vezes são tradicionais, como muitos dos negócios contábeis? Com base Pontos à saber:
– Mudança cultural da organização: processo de consciência digital.
– Ferramentas de gestão de negócios, plataforma de gestão de documentos, de gestão de tarefas, ferramentas de comunicação e automação dos processos. As ferramentas devem contemplar às necessidades dos usuários como um todo bem como os múltiplos canais (online, mobile, etc.).
– Landing Page (Página de conversão de leads) com conteúdos específicos para o público anteriormente mapeado e integrado à equipe de marketing e vendas.
Segundo Rocha (2017), gerar ativos, ou seja, lista de contatos a partir do ítem 3 acima.
– Canais de conteúdo: entrega de conteúdo relevante e direcionado nas mídias sociais para o público mapeado com a utilização dos processos de marketing digital objetivando presença do negócio no mercado.
– Criação de novos e possíveis cargos tais como Analistas de CRM, Analistas Contábeis back office e front office, Analistas e/ou gestores que conheçam data driven, atividades core, marketing digital (conteúdo, tráfego, etc.), ciclo de vida de serviços, que definam roadmap do produto, ações de discovery em conjunto com a equipe do squad, backlog do produto, etc.(vide tabela 1).
– Forte controle dos fluxos de caixa na gestão, utilização do conceito de credito recorrente e/ou outras formas de recebíveis mais eficientes e integráveis (Bispo, 2019).
– Contratos de prestação de serviços digitalizados.
Os pontos acima não tem a pretensão de delimitar a lista , mas expor sobre a visão de que a contabilidade digital é um tipo de negócio que deve entregar ao “lead” ou ao cliente espera receber ao final de cada projeto com uma linguagem clara.
Contudo, a contabilidade digital, segundo Deshmukh (2006), não contempla uma definição padronizada e absoluta mas é a ação promovida pelos efeitos da internet, dos ERP (Softwares) na contabilidade, e segundo Kotler et al (2017) das necessidade e alterações do consumidor frente à busca inteligência de negócio, inovação e viabilidade por meio da tecnologia. É um novo negócio.
Autor: Sergio Bispo – Contabilista, especialista em controladoria e finanças.